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Solitude: por que cada vez mais brasileiros escolhem viver sozinhos e como o mercado está se adaptando

No Brasil, quase 12 milhões de pessoas vivem sozinhas. Movimento reflete mudanças de comportamento, novas demandas de consumo e um mercado imobiliário que aposta nos compactos de luxo

No Brasil, quase 12 milhões de pessoas vivem sozinhas. Movimento reflete mudanças de comportamento, novas demandas de consumo e um mercado imobiliário que aposta nos “compactos de luxo” para um público que valoriza liberdade, conforto e praticidade.

Viver sozinho já não é mais visto como sinal de isolamento, mas como um estilo de vida em ascensão. Segundo o último Censo Brasileiro, divulgado em 2023, 16% dos lares do país são formados por famílias unipessoais — quase 12 milhões de brasileiros. Em 2010, eram 12,2%. A tendência acompanha um fenômeno global: estudo da Euromonitor International prevê crescimento de 20% no número de pessoas morando sozinhas até 2040.

E a data para celebrar essa escolha está próxima: 15 de agosto é o Dia Nacional dos Solteiros. Embora nem todos os que vivem sozinhos sejam solteiros, o movimento aponta para uma nova valorização da solitude — termo que descreve a escolha consciente de estar só, sem associar isso à solidão.

Do status civil ao estilo de vida

O comportamento de viver sozinho extrapola a questão conjugal. Ele reflete fatores como:

Autonomia financeira e profissional;

Busca por privacidade e autocuidado;

Facilidade trazida pela tecnologia, que reduz a dependência de interações presenciais para resolver o dia a dia;

Novos formatos familiares, como casais que optam por morar separados.

Segundo Ricardo Teixeira, especialista imobiliário e sócio-diretor do Grupo Urbs, “muitas pessoas que moram sozinhas não se sentem isoladas — pelo contrário, valorizam a liberdade de ter seu espaço e ritmo”.

Mercado imobiliário se reinventa para atender o público single

De olho nessa demanda, o setor imobiliário aposta nos chamados “compactos de luxo”: apartamentos menores, mas em localizações privilegiadas, com acabamentos sofisticados e infraestrutura completa.

Os projetos oferecem desde lavanderia compartilhada até coworkings, rooftops, academias, spa, piscina com borda infinita e minimercados internos. Tudo pensado para que quem mora só tenha comodidade e qualidade de vida sem abrir mão do design e do status.

E a demanda cresce. Em Goiânia, por exemplo, dados da Brain Inteligência Estratégica mostram que a venda de apartamentos de um dormitório cresceu 67% entre 2023 e 2024. Em dois anos, o número de lançamentos dessa tipologia mais que dobrou.

Solteiros por escolha — e por circunstância

Esse mercado não atende apenas solteiros “por convicção”. Executivos em estadias temporárias, divorciados, estudantes universitários, turistas de grandes eventos e até quem viaja para tratamentos de saúde encontram nos compactos de alto padrão uma opção prática.

“Há muitos casos de compradores que moram sozinhos, mas optam por imóveis de dois quartos para ter home office, biblioteca ou espaço para receber amigos”, explica Teixeira. “Morar só não significa abrir mão de interações.”

O fenômeno da solitude: mais liberdade, menos preconceito

Historicamente, viver sozinho era visto como uma fase de transição. Hoje, a solitude é encarada como escolha consciente — uma forma de vida que privilegia o bem-estar e a liberdade de decidir como usar o próprio tempo e espaço.

Essa mudança também se reflete no consumo: viagens solo, experiências personalizadas e serviços sob demanda se multiplicam. Plataformas de streaming, delivery e aplicativos de relacionamento e amizade ajudam a compor um ecossistema que sustenta essa independência.

De Nanjing para o mundo — e para o Brasil

O Dia do Solteiro surgiu nos anos 1990, na China, quando universitários de Nanjing criaram uma data para celebrar a solteirice com festas. O 11 de novembro virou tradição internacional e até hoje movimenta gigantes do e-commerce.

No Brasil, a celebração ocorre em 15 de agosto, provavelmente criada como estratégia comercial para engajar consumidores — mas que agora encontra terreno fértil em um público que vê na data mais que uma promoção: vê um reconhecimento de um estilo de vida legítimo e em alta.

Tendência para os próximos anos: com o crescimento das famílias unipessoais e o fortalecimento do conceito de solitude, o mercado deverá investir cada vez mais em produtos e serviços que conectem autonomia, luxo e experiência social sob medida.